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Eficácia do 7x6 na formação dos jogadores de handebol

Atualizado: 6 de mar. de 2019



Handebol Pelo Mundo, por Danilo Gagliardi Jr

Muito se discute no mundo sobre a aplicabilidade do jogo de 7x6 nas categorias de base do handebol. Preparação visando a realidade do jogo futuro, estímulo à tomada de decisão ou especialização precoce e abandono da criatividade?


7x6 nas categorias de base do handebol? (arte Tchê Esportes)

As recentes regras introduzidas em nossa modalidade carecem de estudos mais complexos e principalmente tempo hábil para analisarmos os reais resultados de sua efetivação, o que acaba por gerar diferentes posicionamentos ao redor do mundo no que concerne à utilização da opção tática 7x6. No alto rendimento o 7x6 vem sendo amplamente utilizado com resultados efetivos tanto como estratégia dentro do jogo quanto em situações periclitantes na busca pelo placar.

Mas e nas categorias de base, como devemos proceder? Devemos permitir ou não? A partir de qual faixa etária?

No Brasil em 2017 a Confederação Brasileira e a Federação Paulista de Handebol aprovaram a utilização do 7x6 a partir da categoria infantil com algumas restrições pela CBHb, essencialmente nos sets onde a marcação individual será considerada obrigatória.


Cristiano Rocha, auxiliar técnico da seleção brasileira adulta. (foto divulgação CBHb / Photo&Grafia)

O auxiliar técnico da seleção brasileira adulta e principal vencedor dos principais torneios de base do País Cristiano Rocha expressou sua opinião: “O conteúdo não será prioritário nos meus treinamentos diários do clube na iniciação, por outro lado não acredito que a proibição da regra seja o caminho, sendo a utilização do recurso pessoal de cada treinador. Na categoria infantil os elementos táticos coletivos têm relevância pequena dentro do nosso trabalho”.


Guilherme Borin, técnico da Hebraica Infantil Masculino. (foto arquivo Tchê Esportes)

Campeão Paulista Infantil Masculino em 2016, o técnico Guilherme Borin, da Hebraica, discorreu sobre o tema: “Sou conceitualmente contra a ocorrência do sétimo jogador. As crianças nas faixas etárias menores ainda não estão preparadas para esse tipo de ação. Corrigimos primordialmente nas categorias mirim e infantil questões relacionadas ao entendimento do jogo, orientação de quadra, ocupações de espaço e trajetórias. Em contrapartida, acredito que se a tendência mundial da modalidade for a incessante inclusão dessa estratégia deveremos, a médio prazo, preparar nossos atletas nesse sentido, por mais que isso tenha como desdobramento um déficit técnico considerável”.


Claus Bjarke Hansen, técnico da seleção júnior masculina da Dinamarca. (foto Divulgação)

A tradicional escola dinamarquesa de handebol campeã olímpica no Rio ano passado caminha em um posicionamento distinto do handebol tupiniquim, permitindo apenas a utilização do 7/6 na categoria adulta. “Pensando no desenvolvimento dos talentos acreditamos que os jogadores necessitam aprender a realizar com qualidade ações de um contra um, enfrentar defesas de profundidade e atacar com constantes trocas de posições, o que se torna quase impossível nesse contexto. Além de naturalmente aprisionarmos os pontas no fundo da quadra e não possibilitarmos aos pivôs condições hábeis para mudanças de posições, tornando o jogo essencialmente chato para esses jogadores. Acreditamos ser um retrocesso para o jogo“, cravou Claus Bjarke Hansen, responsável pelo desenvolvimento de talentos masculinos da Dinamarca e técnico da seleção júnior masculina.


Paulo Pereira, técnico da seleção adulta masculina portuguesa. (foto Divulgação)

O handebol português pondera entre esses dois caminhos, a possibilidade do recurso 7x6 não é totalmente proibida, começando a ser utilizada na categoria juvenil. “Creio que os treinadores já perceberam que é adequado utilizar para tentar recuperar um resultado desfavorável ou em momentos pontuais e não como opção a usar todo o jogo. Acredito que a partir de juvenis a regra pode ser utilizada. São atletas que entram numa fase de especialização”, declarou Paulo Pereira, técnico da seleção adulta masculina portuguesa.


Ricardo Vasconcellos, treinador português da seleção masculina adulta. (foto Divulgação)

Com o legado dos jogos olímpicos de 2012, em Londres, e o recente aumento de aporte financeiro oriundo de fundos governamentais, o handebol britânico continua dando passos largos para a massificação da modalidade e sua consequente evolução. Conversamos com o treinador português Ricardo Vasconcellos, responsável pelo desenvolvimento do handebol nesta região e treinador da seleção masculina adulta.

Ricardo Vasconcellos definiu: “No que se refere aos escalões de formação, a utilização do 7/6 vai influenciar negativamente a capacidade de tomada de decisão dos jovens atletas e tornar o jogo menos divertido, uma vez que facilita o ataque e desculpa o erro defensivo. Para além disso a tendência será pela utilização de defesas mais compactas o que, em meu entender, prejudica a tomada de decisão defensiva“. A possibilidade da utilização do 7/6 nessa região corrobora com o pensamento português, tendo sua aplicabilidade a partir dos juvenis.

Grande influência do handebol brasileiro, principalmente pelas estupendas duas passagens de Jordi Ribera no comando do desenvolvimento do nosso esporte, a escola espanhola não permite a utilização do 7/6 nas categorias menores de acordo com a regra nova, permitindo o implemento do goleiro-linha com as normas antigas e a utilização do colete.


​Daniel Gordo Rios, treinador do Balonmano Nava do Ademar para a temporada 2017-2018 . (foto Divulgação)

Daniel Gordo Rios, ex-treinador do Ademar de Leon em duas Champions League e grande contratação para a temporada 2017-2018 do Balonmano Nava, emitiu seu ponto de vista: “É um conteúdo muito especifico, onde os componentes táticos e estratégicos estão acima dos técnicos, o que para o handebol espanhol não tem cabimento. Na Espanha, dentro do processo de formação se predomina a técnica e tática individual e os mecanismos de decisão. Por fim, constato que a utilização do 7/6 nas categorias menores pelos treinadores visa o resultado, objetivo totalmente inadequado para o processo de formação‘’.

Acredito ser inadequada a propositura da estratégia 7/6 nas categorias de base do handebol. Trata-se de uma estratégia de um grau de complexidade exagerado para atletas em formação. Normalmente acompanhamos uma grande dificuldade das equipes na execução de ações simples de cooperação com o pivô, jogo de 2/2. Acrescentar mais um jogador na mesma dimensão espacial causará confusão e frustração aos jovens atletas. Outra grande preocupação em relação à execução da tática em destaque seria a consequente utilização do sistema 6:0 na maioria das equipes. Acho imprescindível nas categorias de bases o emprego de sistemas de duas linhas. As defesas de maior profundidade acabarão por formar atletas melhores e mais inteligentes tanto no âmbito defensivo quanto ofensivo.

Das modalidades coletivas mais democráticas existentes o handebol tende a permitir sua prática por uma vasta gama de biótipos, a inclusão sistemática da utilização do 7/6 na base levará aos nossos clubes e treinadores, normalmente vinculados a cultura futebolística brasileira de resultados, a optar por defesas fechadas e à consequente escolha por jogadores de grande estatura, tornando assim nosso processo de captação de talentos prejudicado e menos eficiente.

A discussão está lançada ... qual é a sua opinião ???

Saudações Handebolistas!


handblog@tcheesportes.com

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PERFIL DO AUTOR

Danilo Gagliardi Jr Paulista, o ex-goleiro jogou entre outras equipes na A Hebraica, em São Paulo. Primeiro brasileiro a ser técnico profissional na Europa , teve sua formação como treinador realizada internacionalmente na Academia de Handebol de Aarhus, Dinamarca. Disputou a EHF Cup em 2016 , além de dois panamericanos e dois campeonatos mundiais como integrante da comissão técnica das seleções brasileiras de base.

SOBRE A PÁGINA

O handebol no cenário internacional, competições, comentários sobre atletas, desempenhos e informações em geral.

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